Psicologia Econômica
- Rafael Bianco
- 19 de mar. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 29 de mar. de 2019
A psicologia econômica ou psicoeconomia surgiu oficialmente em 1881 e teve várias evoluções até então. Dois dos mais recentes pesquisadores do comportamento econômico que temos são Daniel Kahneman (Livro, Rápido e Devagar) e também temos o autor Brad Kontz (A mente acima do dinheiro).

Estudamos hoje quais comportamentos, tipos de personalidade, modelos de atitude possuem maior propensão a ter riqueza. Um exemplo disso é o Inventário feito por Klontz (Klontz MSI) ou até mesmo a Escala de Atitude Financeira de Yamauchi (MAS).
Com o avanço dos estudos, foram se observando pontos em comum nas escalas e inventários, elas contemplam visões de nossas crenças e atitudes financeiras.
De acordo com Tang (1992) & Furnham (1984) aspectos de idade, gênero e educação também implicam na atitude financeira. Pessoas mais novas e sem muita educação tendem a ver dinheiro como algo maléfico (sendo mais impulsivos), enquanto que os mais velhos e com escolaridade veem como algo bom (sendo mais conservadores).
As subescalas usas no inventario de Klontz nos trazem 4 aspectos a serem avaliados e que estão diretamente ligado as nossas emoções, crenças e atitudes (comportamentos) diante do dinheiro. O primeiro ponto é a evitação, o segundo é a acumulação financeira relacionado a cultura, em terceiro temos o status quo que está relacionado aos aspectos de relações sociais e por último temos a vigilância, que nada mais é do que a omissão de informações sobre o dinheiro.
A evitação financeira ocorre mais com as pessoas que acreditam que dinheiro é algo ruim ou que elas não merecem, geralmente isso se deve as relações negativas no passado com dinheiro e uma das principais crenças limitantes que temos é: "Eu não tenho cabeça para os negócios." ou até mesmo "Quando se trata de trabalho e dinheiro eu só quero estabilidade". Crenças como essas duas nos evitam de ter que lidar com emoções como ansiedade, medo do fracasso, desconforto. Geralmente essas pessoas acabam se sabotando em acumular dinheiro. Klontz nos mostra que elas geraram este padrão devido a situações onde houveram riscos altos ligados a finanças, assim como rejeição e omissão/negação financeira.
Acumulação financeira está ligada a ideia de abundância, ou seja, mais dinheiro fará com que minha vida seja melhor, disso também surgem os jargões "Tempo é dinheiro" e "dinheiro não trás felicidade". São duas crenças que nos limitam em diversos pontos e estão atreladas as emoções de forma disfuncional. Vamos usá-las como exemplos para explorar mais o tema.
"Tempo é dinheiro" nos remete a ideia de que devemos produzir e trabalhar ao máximo, que todo movimento de ócio é nocivo ao ser humano, essa ideia vem desde a revolução industrial onde os processos e meios de produção eram extremamente massivos e mecânicos. Essa crença é muito comum e junto dela acabamos passando a maior parte do tempo conectados ao financeiro do que ao nosso bem estar, com isso percebemos milhares de problemas na saúde mental e física das pessoas.
Do outro lado temos a máxima "Dinheiro não compra felicidade" o que também nos limita pois correlacionar felicidade e dinheiro nos faz ter que escolher entre um ou o outro. Em ambos os casos, temos o desenvolvimento de quadros adoecidos e pessoas que se afastam do que chamamos de senso de satisfação. De um lado, porque elas não possuem tempo para o lazer, do outro porque elas não possuem dinheiro para o lazer. Em situações como essas foram identificados padrões de pessoas viciadas em trabalho (workaholic), pessoas viciadas em jogos de azar e compulsões de compra e similares.
Status-Quo Financeiro nada mais é do que você acreditar que ter dinheiro lhe permite (e sim, permite). Você tem um problema quando acredita justamente que só isso lhe trás valor pessoal. Sabe os problemas de questões socioeconômicas que enfrentamos no mundo? Então, eles vêm desta crença que relaciona autovalor à sua conta bancária, disso também surge em alguns casos as críticas à meritocracia e ao sistema capitalista competitivo em que vivemos.
Aprofundando ainda mais em sintomas problemáticos desta crença financeira, vemos que muitas pessoas adoecem por não ter o montante que desejam. Disso surgem as pesquisas sobre bem-estar e materialismo (Tatzel, 2002). Na pesquisa de Klontz ele identificou que pessoas novas, solteiras e com baixa escolaridade geralmente acreditam nisto (ao nível Brasil, seria a periferia). Ligado a isso também temos as questões sociais relacionadas na manutenção de crenças limitantes e perspectiva de futuro. Como assim Rafael? "Nasci pobre, vou morrer pobre" lhe soa familiar? Isso também é uma crença e ela está ligada ao seu status quo, a sua autoimagem e autovalia, sendo mantida pelas pessoas com quem você convive e informações que consome, se você não tem o costume de sentar e estudar a fundo, vai sempre ficar limitado ao que te mandarem mas se você sair da curva (zona de conforto financeira) vai descobrir outro mundo cultural ao seu redor e assim romper com padrões culturais impostos desde sua infância.
Vigilância Financeira refere-se ao ato de ficarmos omissos ao dinheiro, seja por vergonha ou por mera ignorância, este exemplo ocorre muito em famílias e colegas de profissão onde pouco se fala de questões financeiras, gerando assim mais desinformação e junto disso, crenças negativas. Todos nós crescemos ouvindo que determinados assuntos não deveriam ser discutidos, política, futebol, dinheiro e relacionamentos de terceiros. Onde chegamos com isso?
Uma sociedade incapaz de dialogar, aceitar diferentes visões (baixa resiliência e resistência à frustração), criando mais discursos inflamados e "egocentrados". É comum eu receber no consultório, adultos que não falam de dinheiro com seus parceiros afetivos e seus filhos ou familiares, resultando em grandes problemas de diálogo como falta de confiança, falta de segurança, desinteresse sexual e afetivo, em alguns casos é até motivo para divórcio.
Klontz nos diz que a vigilância financeira está ligada aos excessos de racionalidade, ansiedade, medo de fracasso e senso de provedor da casa (cultura muito comum na sociedade). E outros estudos e práticas nos revelam que quando o casal, por exemplo, debate sobre finanças os sintomas para este problema tendem a diminuir ou desaparecer, melhorando inclusive a relação conjugal e as questões financeiras.
Deixo aqui uma técnica bem simples para você aplicar e identificar seus gatilhos financeiros.
1) Pegue um papel e desenhe um circulo nele. (Circulo 1) - 5 centímetros
2) Desenhe outro circulo (Circulo 2) ao redor do circulo 1 que você fez anteriormente. - 10 Centímetros
3) Desenhe o terceiro circulo (Circulo 3) agora com 15 centímetros ao redor do Circulo 2
4) Dentro do circulo 1 (o menor) você vai colocar todos aqueles pensamentos, emoções derrotistas ou vitimistas.
5) Agora coloque situações, pessoas, lugares, ideias, coisas, comportamentos no Circulo 2 (o do meio) e relacione-os com o do circulo 1.
6) No circulo 3 você vai colocar tudo aquilo que lhe faz bem, pessoas, lugares, emoções, pensamentos, comportamentos, tudo que lhe ajuda a manter sua atitude mental positiva.
Simples né, agradeça ao Klontz, esse exercício foi tirado do Livro A mente acima do dinheiro.
Rafael Bianco - Psicólogo: CRP 01/17466
Ebook de auto-hipnose: http://bit.ly/florecasuamente
Ebook sobre crenças: http://bit.ly/EbookCrenças
Livros interessantes:
- Pensamento Rápido & Devagar (Daniel Kahneman): https://amzn.to/2OdaCKG
- A mente acima do DInheiro (Brad Kontz): https://amzn.to/2CqHD14 (digital) - Como Organizar sua vida financeira (Gustavo Cerbasi): https://amzn.to/2Cn5G12
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- Do Mil ao Milhão. sem cortar o cafezinho (Thiago Nigro): https://amzn.to/2udGUfp
- Dinheiro sem medo (Eduardo Amauri): https://amzn.to/2FkVsjB
Artigos Pesquisados: - https://newprairiepress.org/cgi/viewcontent.cgi?article=1009&context=jft - https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/17173/1/Vera%20Rita%20de%20Mello%20Ferreira.pdf - https://www.psychologytoday.com/sites/default/files/The%20Psychology%20of%20Wealth%20-%20Psychological%20Factors%20Associated%20with%20High%20Income%20-%20Journal%20of%20Financial%20Planning%20-%202014.pdf - https://www.wrprates.com/o-que-e-financas-comportamentais-e-economia-comportamental/
- Furnham, A. (1984). Money sides of the coin: The psychology of money usage. Personality and Individual Difference, 5(5), 501-509.
- Tang, T. L. (1992). The meaning of money revisited. Journal of Organizational Behavior, 13(2), 197-202.
- Tatzel, M. (2002). “Money worlds” and well-being: An integration of money dispositions, materialism and price-related behavior. Journal of Economic Psychology, 23(1), 103-126
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